26 de out. de 2014

Os rastros



         E então os sonhos somem, as metas se vão e tudo o que me resta é um punhado de planos que estão fora de validade e o medo que parece estar impregnado em minhas entranhas. Ele puxa, suga e absorve tudo o que faz quem eu sou, todos os farelos de historia que eu deixei sobre a mesa. Entra sem bater, na calada da noite, quando todos dormem e me rouba a esperança que escondi em uma caixa de sapato no armário.
        Acordo pela manhã e sigo seu pequeno rastro que liga um cômodo a outro, como os caminhos que uma formiga abre na terra. O começo que na verdade é o fim de seu percurso até meu armário começa pequeno, mas a medida que me aproximo do vestíbulo, ainda me perguntando por que diabos  deixo as janelas abertas para ele, percebo que o rastro fica maior, maior e maior até alcançar a porta. 
        Me aproximo tremula e estendo a mão em direção a maçaneta, minha mão esta tremendo e suando frio, mas por que diabos estou tremendo? agarro a maçaneta com força suficiente para me convencer de que é real, e puxo a porta de uma vez. Um vento ruidoso sopra meus cabelos e reverbera por todo o corredor.
        E la esta meu inimigo, inundando tudo a minha volta, seu rastro já não é um rastro e infelizmente constato que ele cobre cada centímetro de chão, de céu, de tudo. 
        Lá esta meu inimigo. Apenas esperando alguém para combate-lo. Soprando o vento em meu rosto, fazendo o tecido de minha camisola amarela grudar em minha pele e ricochetear em minhas costas, me desafiando a encara-lo. Recuo pois sei que se não fiz isso em tanto tempo não será hoje munida apenas com um armário vazio da esperança que ele mesmo me roubou, que irei olha-lo nos olhos.  Mas toda essa certeza dura apenas um segundo, pois minha mente tenta me fazer corajosa e me dá uma amostra do que tenho passado nos últimos tempos seguindo esses caminhos de formiga que serpenteiam minha casa, me mostrando todos os dias que me deixei vencer por ele. 
        Desperto de um supetão, desejando mais daquela raiva, daquele destemor que atravessa minha veias. Sei que irá soar clichê, mas nunca senti isso antes - sim, clichê - e só consigo pensar o quanto é bom sentir isso, aqui, na porta da minha casa, onde venho sendo atormentada por ele todos os dias. Mas tudo acontece muito rápido e só ouço o coração batendo nos ouvidos e já não me importo com o vento forte, solto a porta que até então estava apertada em minha palma e ela bate e volta contra a parede, e eu não vejo mais nada, apenas coragem embaçando minha visão. Agarro a pá que estava ali, ao lado da minha porta esperando o meu despertar, e corro pela varando, pegando impulso para meu pulo, vôo os exatos oito degraus e tudo o que sinto é meu grito de guerra arranhando minha garganta, me consumindo por inteira.
       Pois ja estava na hora de alguém catar esse rastro de lama.


bye.

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