26 de out. de 2014

Eu e você



      E isso é chuva fria no dia mais quente. É palavra não dita. É paixão sussurrada. É verão e piscina, é outono e uma lareira crepitando baixinho, é inverno e sua capa de chuva, é primavera e o mais belo narciso.
      E isso é o oceano mais azul em seus olhos. É o mel mais doce em sua boca. É a melodia de uma letra. É o solo de um violino no final de um dia ruim. É o reencontro de dois apaixonados. É sua boca me tocando tocando tocando. É paixão derretendo e escorrendo no vão entre meus dedos. É  a beira de um abismo, são as ondas se quebrando nas rochas, é uma caverna escura e úmida, é o pote de ouro no final do arco-iris. 
      E isso é calor sendo plantado em meu peito, e isso é calor se enraizando em meus seios. É fogo lambendo minhas entranhas, é aço marcando minha pele. São suas mãos tocando tocando tocando. É o pôr-do-sol e o mar. É sua voz rouca demais, é um sussurro, é meu ouvido, é um arrepio na nuca. É somente eu e você.  São nossos sonhos se difundindo um no outro. São nossas bocas se tocando, é eu pensando em como seria fácil simplesmente derreter em seus braços, é isso me fazendo feliz feliz.
      E isso são seus braços me envolvendo, são nossas almas se entrelaçando uma na outra. É mais do que um pedido pra uma ser da outra. É eu sendo sua e você sendo meu. É o toque dos toques, o laço dos laços, o beijo dos beijos. É você e eu. Eu e você.


bye.

Os rastros



         E então os sonhos somem, as metas se vão e tudo o que me resta é um punhado de planos que estão fora de validade e o medo que parece estar impregnado em minhas entranhas. Ele puxa, suga e absorve tudo o que faz quem eu sou, todos os farelos de historia que eu deixei sobre a mesa. Entra sem bater, na calada da noite, quando todos dormem e me rouba a esperança que escondi em uma caixa de sapato no armário.
        Acordo pela manhã e sigo seu pequeno rastro que liga um cômodo a outro, como os caminhos que uma formiga abre na terra. O começo que na verdade é o fim de seu percurso até meu armário começa pequeno, mas a medida que me aproximo do vestíbulo, ainda me perguntando por que diabos  deixo as janelas abertas para ele, percebo que o rastro fica maior, maior e maior até alcançar a porta. 
        Me aproximo tremula e estendo a mão em direção a maçaneta, minha mão esta tremendo e suando frio, mas por que diabos estou tremendo? agarro a maçaneta com força suficiente para me convencer de que é real, e puxo a porta de uma vez. Um vento ruidoso sopra meus cabelos e reverbera por todo o corredor.
        E la esta meu inimigo, inundando tudo a minha volta, seu rastro já não é um rastro e infelizmente constato que ele cobre cada centímetro de chão, de céu, de tudo. 
        Lá esta meu inimigo. Apenas esperando alguém para combate-lo. Soprando o vento em meu rosto, fazendo o tecido de minha camisola amarela grudar em minha pele e ricochetear em minhas costas, me desafiando a encara-lo. Recuo pois sei que se não fiz isso em tanto tempo não será hoje munida apenas com um armário vazio da esperança que ele mesmo me roubou, que irei olha-lo nos olhos.  Mas toda essa certeza dura apenas um segundo, pois minha mente tenta me fazer corajosa e me dá uma amostra do que tenho passado nos últimos tempos seguindo esses caminhos de formiga que serpenteiam minha casa, me mostrando todos os dias que me deixei vencer por ele. 
        Desperto de um supetão, desejando mais daquela raiva, daquele destemor que atravessa minha veias. Sei que irá soar clichê, mas nunca senti isso antes - sim, clichê - e só consigo pensar o quanto é bom sentir isso, aqui, na porta da minha casa, onde venho sendo atormentada por ele todos os dias. Mas tudo acontece muito rápido e só ouço o coração batendo nos ouvidos e já não me importo com o vento forte, solto a porta que até então estava apertada em minha palma e ela bate e volta contra a parede, e eu não vejo mais nada, apenas coragem embaçando minha visão. Agarro a pá que estava ali, ao lado da minha porta esperando o meu despertar, e corro pela varando, pegando impulso para meu pulo, vôo os exatos oito degraus e tudo o que sinto é meu grito de guerra arranhando minha garganta, me consumindo por inteira.
       Pois ja estava na hora de alguém catar esse rastro de lama.


bye.

30 de dez. de 2013

Tchau 2013



    Esse foi um ano de pequenas mudanças mas que fizeram uma grande diferença.
    Diferente dos outros anos não fiz lista de objetivos e optei por deixar meus desejos bem longe do papel.      
    Talvez por medo de ser traída por minhas próprias expectativas e não conseguir realizar nada, ou ate mesmo por preguiça de ter mais uma lista com desejos que mais pareciam obrigações a serem cumpridas.
    Mesmo sem lista tinha algumas coisas em mente mesmo sem querer ter, mas enfiei na minha cabeça que era apenas algumas coisas para checar e ver se continuavam as mesmas. Tenho que confessar que quando o fim do ano foi chegando e eu vi que muitas daquelas coisas se manterão iguais fiquei decepcionada. Mas como muitas outras também mudaram pude ver - e aprender - que mudanças, no mínimo permanentes não acontecem do dia pra noite, que diferente de se mudar de casa mudar o que a gente tem por dentro é bem mais delicado, e que paciência, sem dúvida é algo essencial.
    Ou seja, esse ano me surpreendeu completamente como um ano de completa - ou quase - transição para uma versão nova e mais melhorada de mim mesma. Mais paciente, mais calma, mais esperta, mais responsável e sem sombra de dúvidas mais forte. 

2 de set. de 2013

Ele



     Eu te perguntei se estava tudo bem, e depois de ter feito essa pergunta percebi o quanto soa idiota feita à você , sendo assim tao explicito.
     É claro que não está tudo bem, e isso está estampado em seu rosto. Vejo suas olheiras e quase sinto a dor de quando as adquiriu nas madrugadas onde o sono é relutante e o peso do dia caí sobre você.
     Desculpe não poder pegar sua dor. Desculpe não fazer nada quanto à essa situação tao vacilante.
     As palavras saem se arrastando de você e vejo o quanto é difícil explicar como foi seu dia. Tento te fazer rir mas o máximo que consigo arrancar de você é um pequeno sorriso.
     Você olha nos meus olhos com gratidão, e não entendo o porquê Não consigo nem te fazer rir.
     Você continua me olhando como se olhar nos meus olhos  o fizesse ver minha alma. 
     Por favor, não faça isso.
     Ela é tao suja e errante. Não é disso que você precisa agora. Desviu o olhar e você me faz olhar de novo para seus olhos. Você se aproxima devagar, e encosta seus lábios macios nos meus. Não há mais dor. É simplesmente sua alma pedindo pela minha. Se um beijo pode expressar alegria isso - seus lábios tocando os meus - mostram o mais belo sorriso.  

23 de jul. de 2013

Palavras guardadas
























   As palavras simplesmente não saem. Querem ficar aqui dentro, onde é mais seguro pra elas, onde é mais seguro pra mim e pra todos. Eu tento, digito uma linha, reescrevo um parágrafo de um texto que não foi escrito e volta a apagar, vendo o quão inútil são as palavras ao vento.
   Não me trazem significado a nada e não me dizem mais o que o coração grita. Antes para por pra fora era simples e rápido. Sem mais voltas e voltas no quarteirão que imagino que tenha no coração. Elas decidem sair com dificuldade e não me dizem mais do que poucas palavras que me mostram que a ferrugem já tomou conta de minha imaginação.
   Não sei dizer se é a tristeza que as faz quererem ficar aqui dentro, ou a raiva que as expulsa da minha mente, boca e mãos ansiosas para colocar em prática aquilo que não é para ficar dentro. Quero coloca-las pra fora e mostrar aos outros, o que não consigo dizer com tanta facilidade, o que o mundo ofusca de nossos olhos.
   Mas vejam, apenas continuo escrevendo e pensando em como não consigo escrever e no que não consigo pensar para fazê-lo. Quero escrever sobre o mundo, sobre as pessoas e seus hábitos. Sobre o garoto que eu gosto e a maneira como ele diz meu nome. Quero escrever sobre a injustiça e sobre o orgulho. Quero escrever aquilo que não consigo mostrar em olhares e em falas ditas de maneira sem graça.
   Quero escrever sobre minha vida, sobre as pessoas que amo, e sobre o meu jeito de afasta-las. Também quero escrever sobre música, sobre minha vontade de viajar e conhecer novas pessoas. Quero escrever sobre amizades e como são. Como te deixam feliz e como muitas vezes te decepcionam. Quero escrever sobre como a escrita é bela e como me deixa feliz expor isso. Quero escrever sobre tudo isso, mas ainda não nem completei meu texto sobre o que quero escrever e como as palavras não saem. Então deixa eu completar esta tarefa e deixar as palavras saírem por vontade própria.

Bye. 

20 de mai. de 2013

Abismo pessoal




   Ela entra no banheiro, respira fundo e limpa os olhos das lagrimas. Liga o chuveiro, coloca na temperatura quente o bastante para que em questões de segundos o banheiro vire uma sauna, ela tira a roupa e se coloca em frente ao espelho embaçado com o vapor da água. Da maneira mais simples e sincera ela tenta olhar para dentro de si. Ela consegue fazer isso sem que sua consciência lembre-se do mundo, ela quase toca todas as feridas e os lixos pessoais que cercam seu coração.
   
   Umas palavras mal pensadas aqui, um punhado de pensamentos cansados e ocultos ali, um arame farpado que ela acha ter colocado por causa do ex bem ali, atrás do muro contra hipocrisias que ela deve ter feito para se defender do mundo.
  
   Ela fecha os olhos e deseja que aquele encontro com o seu próprio “eu” dure a eternidade, que dure o suficiente para que ela se esqueça de seus problemas. Ela abre os olhos e ri de si mesma, ri da maneira como o desespero dela á levou a ter pequenas quedas no abismo de lembranças que ofuscam a realidade da qual ela acorda disposta a fugir todos os dias.


Imagem: Weheartit

19 de mai. de 2013

Eco




   Tudo mudou, as pessoas não são mais as mesmas, cada uma se protegendo como pode dentro da sua própria bolha. O sol já não brilha com a mesma intensidade, é como assistir um interminável filme preto e branco, alguns atores ruins, outros cenários péssimos e historias que nem sempre terminam com o desejado “felizes para sempre”.
   Os objetivos são diferentes e as regras também. Os sorrisos se entregaram a extinção e olhar nos olhos para dizer eu te amo não é tão comum. As pessoas estão fracas e frias buscando algo que fuja da realidade que nos sufoca há tanto tempo.
   E tudo que queremos é voltar no tempo na esperança de concertar algumas linhas tortas e se preocupar apenas com aquele amigo que sempre quer ser o mesmo personagem que você.
    Ainda posso sentir o vazio ali, no falso sorriso do “bom dia” e nas lágrimas de dor. A verdade é que todos temos um lado podre que ama, sofre e sente. E não existe ninguém capaz de resistir às mudanças da vida. Cada um tem uma cota de orgulho que só vai deixar de existir quando pararmos de olhar somente para nossas feridas e percebermos que alem do seu existem muitos outros sorrisos falsos. 

Beijos ;*

Imagem: Weheartit